domingo, 13 de junho de 2021

Lágrimas ao vento

 


Lágrimas ao vento

Tereza Cristina

Eis que passou mais um 13 de junho!

As luzes da cidade já substituem a claridade natural do dia. Os últimos raios de sol no poente se misturam entre nuvens brancas feito algodão colorido. Por um instante, aquela paisagem do firmamento me fascinou e, sem nenhuma explicação, me trouxe uma breve nostalgia. Tudo conspirava para que aquela sensação me desse uma enorme saudade.

Por essa hora, uma multidão ainda acompanhava exausta o nosso padroeiro. E nada é mais nosso que esse ato. Uma mistura de religião e cultura.  De festa e oração. Nas calçadas por onde a procissão passa, outros devotos aguardam um instante para simplesmente olhar o andor. Cada ano ele traz uma novidade. Já não é mais um simples andor. Virou uma pomposa alegoria. Sempre rodeado de flores naturais cobiçadas por quem acredita que pegando ao menos um galho terá o seu desejo atendido. Fogos de papoco são como cornetas anunciando que a procissão se aproxima. Servem também para causar um reboliço interior. E de nada adianta buscar uma lógica em tudo isso.

Todo ano é assim: em meio à euforia de nossa gente, há também quem passe eventualmente ao mesmo tempo pelas calçadas e nem veja sentido. Certamente não tem sua ascendência nesta “Pedra Bonita”. É compreensível também.  Seu olhar não percebe o significado deste costume que tem origem secular. Nunca ouviu nem sequer falar de Sebrão Sobrinho; não soube da intenção do Padre Sebastião, que ao vender seu sítio localizado na Caatinga de Ayres da Rocha, quis ver concretizada a criação da Freguesia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, sob a condição de nela ser reedificado um templo sob esta invocação. Talvez não seja nem descendente de outro Itabaianense.

Entre tantos costumes locais, a veneração ao santo padroeiro é a nossa mais remota forma de expressão cultural que o passar dos anos fortalece. Se acaso assimila as novidades de cada época, essas variações não chegam a interferir no sentimento profundo que une toda a gente. Por treze dias, nossa cidade abraça o sonho do padre Sebastião em estado de festa, de certa forma celebramos sua história. E, ainda que, conjugando o sagrado e o profano, nos tornamos muito mais filhos de Itabaiana. É uma celebração cultivada ao longo de séculos com marca histórica da música. Ouvir velhos dobrados de autoria de Samuel Pereira de Almeida, de Esperidião Noronha, de Boanerges de Almeida Pinheiro, entre outros compositores da também secular Filarmônica N. S.ª da Conceição, é um passeio no tempo.

Independente da dimensão cultural, ultimamente, ao ver o andor de Santo Antônio, os meus olhos não conseguem segurar lágrimas ao vento! E, quando ele passa, leva consigo a brevidade de um momento, deixando na efêmera presença a lembrança dos ausentes, daqueles que já não estão mais por aqui, dos que outrora também se enfileiravam para recorrer a Antônio seus clamores.

Assim, mesmo que tenha diversos sentidos, os festejos do padroeiro são uma forma de irmanados pela fé, pela tradição ou pelo lazer, preservarmos nossa cultura, de conservarmos nossa identidade, que é reforçada não apenas pela crença, mas pelas recordações que trazem na memória viva de nosso lugar e pelo sentimento deixado para as novas gerações, um grande legado que se constitui no orgulho de ter nascido em Itabaiana!

8 comentários:

Lúcia Maria de Oliveira disse...

Maravilhoso texto Tereza Cristina. Um Itabaianense nato não pode deixar de ler. Parabéns. Vou compartilhar com toda minha família, mesmo não morando mais aí, continuamos devoto de Santo Antônio. Parabéns.

Kiko Magneto disse...

Bacana, Tereza, talvez seja mesmo o ultimo resquicio de irmandade do nosso povo.

Unknown disse...

Sensibilidade, Amor, Cultura. Texto maravilhoso que enche de orgulho e lembranças o itabaianense que mora fora

Unknown disse...

Jose Paulo de oliveira

Unknown disse...

Parabéns Tereza Cristina. Amei seu texto. Sou de Itabaiana, e continuo amando o nosso tão amado Tontonho.

Unknown disse...

Ana Maria de Oliveira 14.06.2021 parabenizo você por esse texto maravilhoso falando sobre nossa querida terra, e também pelo nosso tão amado Tontonho. Ele está simplesmente lindo!!!

Unknown disse...

Maravilhada com o texto 💞💞💞💞

Unknown disse...

Parabéns !!! EMOCIONANTE Tereza