domingo, 23 de maio de 2021

Energia de atração


 

 

Energia de atração

Tereza Cristina

 

Tem mais de um ano que estou isolada cuidando de meu pai, um idoso de 95 anos e do meu irmão especial. Minhas atenções voltadas para o cotidiano me deram muitas atribuições. Vivi esse tempo um altruísmo nunca antes experimentado. Eis que, no entanto, toda essa ocupação não me impediu de sentir um interesse especial. Surgiu assim como do nada... Sem busca, sem pretensões... Veio naturalmente e apesar de eu hesitar, foi se deixando em mim pelos constantes pensamentos. Entre uns afazeres e outros, comecei a me pegar numa cilada talvez do cupido. Ele nem sempre nos avisa. Chega do nada. Eu de minha parte, depois de tantos desenganos, fui protelando e resistindo até quando pude. Imaginei inicialmente ser a carência do momento. Depois percebi que se assim fosse me questionei por que eu não senti essa sensação em outras ocasiões que fui provocada virtualmente e que simplesmente ignorei?

A vida nos apresenta suas curvas cheias de surpresas. Nelas os mistérios impedem a nossa compreensão. Certamente esta tem os limites da pouca sabedoria. Não podendo eliminar esse anseio, a minha carga de experiência de vida me aconselha silenciosamente a deixar fluir... Não é hora para expectativas. Nem tão pouco para renuncias. Viver o momento com serenidade, entendendo que a situação do confinamento está contribuindo para o amadurecimento das emoções. No que resultará? Ninguém sabe. Nem mesmo se eu me angustiasse e buscasse respostas. Mesmo que alguns se alvorem de possuir premonições o futuro não é um caso determinado pelo destino. Existe o livre arbítrio. Nele nossas contribuições para um possível sucesso.

O surgimento de um interesse tem como explicação a força de atração da energia entre pessoas que têm em algum momento seus caminhos cruzados e, como por encanto, se encantam uma com a outra.

Permitir essa construção é antes de tudo fazer existir a história de vidas. Cautelosamente, sem a euforia da insensatez, devemos obedecer os limites impostos pela pandemia e esperar as possibilidades que sendo para o bem comum, venham acontecer.

Posso até me parecer muito racional.  Entretanto, a maturidade me convida a entender esse sentimento como já sendo uma dádiva que poucos experimentam mesmo com a presença física.

Dessa forma, pretendo usufruir das emoções até quando elas sobreviverem. Não importando no  que virá.

 

domingo, 16 de maio de 2021

Transgressão ou humanização?!


 

 

 

 

Transgressão ou humanização?!

 

Tereza Cristina

 

 

Era para obedecer ao sistema... Mas ele resolveu brincar e ler exercitando o amor. Assim assustou a todos.

Sua mãe se preocupou e  por precaução o levou ao médico.

Um diagnóstico revelou uma grave patologia. Recebeu a prescrição e, se enquadrou, mascando chiclete e assistindo TV.

Um horror?! Nem tanto... Não há de ser nada.

O tempo passou... O mundo pesou, mas não há de ser nada.

Chegou à juventude.  Essa que veio depois de depois da minha.

Certamente saberá se sair. Irá saber encontrar seus trilhos, vai escapar do obscurantismo. Talvez não pela consciência do conhecimento, esse passou longe, mas pela festa intuitiva de se encontrar na praça. E, na intuição, vai fazer da força juvenil um acalento, um movimento no sentido certo. Vai deitar com muitas garotas... Ou garotos... Sabe-se lá...

Vai aceitar ou se indignar quando for conveniente.

O ímpeto da participação política, o gosto de participar, o sentimento romanceado de estar fazendo parte da história, mesmo sem a conhecer bem, ainda que enviesado, que traga o cheiro da alienação, a causa anunciada como foco - a educação – o colocará entre os jovens que protestam por alguma causa. Nem que seja uma do tipo “sei lá, entende?!” Ao menos, a observação da força do coletivo há de alocar algo no arcabouço experimental enquanto estudante. Terá a sensação de ser útil. Por isso, poderá perceber algum sentido na sua vida. Mesmo que pareça medíocre, quando o comportamento se contrapõe ao vazio existencial que o modelo mercadológico impõe aos menos experientes surgirão possibilidades.

Assim, participará da ação política da "turminha", mesmo que desprovida da argumentação consciente. Parecerá importante.

Haverá críticas. Ele se chateará. Terá pouca paciência e poderá revidar com gritos, berros, força bruta... Mas, também poderá despertar para a leitura, para a busca do conhecimento, para uma conscientização bem amparada, para a construção de alicerces verdadeiros e de embasamentos reais. Usará do livre arbítrio.

Fora isso, mesmo que por mera coincidência, o movimento de sua vida correrá na direção das mudanças... Estará motivado para  o refazer-se. Seja lá qual for a desculpa da motivação, será extraordinária: lutar!

Lembrará as alegrias gratuitas quando um dia pode brincar e criar...

Sentirá saudades. Repensará... E já adulto, perceberá que um pequeno espaço livre lhe proporcionou ser gente. Gente que vivenciou o lado da luz e pode até cair nela. Que bom!

Concluirá então que bater panelas da varanda para defender de forma alienada a causa dos que  alienam é de fato uma perda de tempo na vida.