segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

As Alegrias da ânima


 

As alegrias da ânima

(Tereza Cristina)

É Carnaval!

Corpos dançam

Fingindo alegria.

 

(Buscam essa sensação, é verdade.)   

 

Trocam beijos sem carícias

Pulam como se em brasas pisassem.

 

Temendo os pés no chão

Curtem prazeres vãos

Sufocando tristezas.

 

Secam o suor na chuva

Lavando toda certeza.

 

É carnaval!

Avisto na multidão

Alguém trajando pierrô.

 

Escutem as batidas do seu coração

 

Ainda tem colombina?

 

As batucadas avisam

As alegrias da ânima

Pedem passagem

Nos desfiles, nos blocos,

E nos salões

Dos carnavais da vida!

terça-feira, 29 de junho de 2021

Brasil: mais que uma seleção, uma nação de apaixonados por este país!


 Brasil: mais que uma seleção, uma nação de apaixonados por este país! Não vou falar de jogo. Nem vou analisar resultado. Não entendo de futebol. Mas, não é técnica que dá alegria ao torcedor apaixonado. Por isso, não me venham com argumentos de que jogamos mal. A maioria dos brasileiros como eu se contenta em vencer o adversário. Jogos brilhantes não necessariamente se constituem em placar favorável. E isso no final das contas, é o que interessa: ganhar um jogo, vencer uma partida de futebol, fazer a torcida vibrar. Mesmo que antes disso seja preciso, duvidar, sofrer, suplicar e, finalmente, buscar na fé a certeza da vitória. Há nisso um misto de paixão e loucura, de insanidade e do despertar da consciência patriótica. Nessa contradição, há pouca lógica e muito de sentimento. De um sentimento profundo que escondido lá no fundo de cada um de nós consegue aflorar o amor civil transbordando em lágrimas, em gritos, em gestos, em risos e abraços! Olhares que fitam um horizonte como quem procuram o invisível. Há uma vontade enorme de orgulhosamente apresentar para o mundo todo o melhor de nós. Talvez a bola seja apenas uma desculpa. Talvez ela apenas represente a força de nossa gente. As pernas dos jogadores bem que substituem os braços dos trabalhadores. Em todo o espetáculo, uma natureza espontânea, livre e leve que traduz a alegria de nosso povo que, quando unido, não se permite no temor. É esse aspecto sobre o qual venho ressaltar. A sensação de que na tão criticada ‘copa 2014’ temos um saldo pra lá de positivo que é um elo forte: o amor ao nosso país. Somos então, ‘um’ de fato! Sedentos de um ‘gol’ na vida cidadã. Um ‘gol’ que faça nossa natureza de eternos adormecidos ‘em berço esplêndido’ despertar para a certeza de que somos um país menos sofrido formado por uma gente mais alegre. Nessa perspectiva, temos no futebol uma forma mágica de simbolizar a harmonia de nossa gente que tem por índole a alma pacífica, mas nem por isso menos vibrante. Que espera pelo milagre do ‘gol’ da vida!

O ‘Pedro ‘ em nós

                   (Batismo de Paulo)                             (Túmulo de Pedro)
 

O ‘Pedro ‘ em nós

(Tereza Cristina)


 Não é senão o nosso coração quem tem as chaves das portas para onde quer que desejemos ir!
Frente à resposta da pergunta de Jesus: “Que dizem os homens que eu sou?”, Pedro e Paulo se revelaram Apóstolos com diferentes perfis. O primeiro pescando almas humanas e o segundo anunciando o evangelho de Cristo.
Paulo  mesmo tendo nascido em Tarso foi criado em Jerusalém, recebeu uma educação esmerada "aos pés de Gamaliel" que é considerado um dos maiores professores nos anais do Judaísmo, um dos grandes mestres da Lei na época.
Pedro era um homem humilde, um simples pescador, sem o conhecimento das letras. Porém, Simão Pedro, respondendo a pergunta de Jesus sobre “Que dizem os homens que eu sou?”, disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus respondeu-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim Meu Pai que está nos céus. Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja e as portas do Hades (do mal) nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus. E o que desligares na terra será desligado nos céus". Jesus, para designar todo o poder do Mal usou o termo "portas", da mesma forma o Reino de Deus tem portas, na sequência Pedro recebe suas chaves. É por esta razão que Pedro é geralmente representado com chaves na mão e como porteiro do Paraíso.
Os dois pilares da fé Cristã nos remete ao contexto atual de maneira a perceber que se em Paulo (que nos dá o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã) há um despertar da Consciência Crística pela razão, pelo conhecimento, em Pedro, essa mesma consciência se desperta pelo coração, pela intuição, pelo amor de Deus.
Assim, essencialmente, não é senão o nosso coração quem tem as chaves das portas para onde quer que desejemos ir!

segunda-feira, 28 de junho de 2021

A um colega (In memoriam)


 A um colega (In memoriam)
Tereza Cristina

Sou de uma geração que primava pelo respeito aos professores e deles assimilava não apenas os conteúdos de suas retóricas, mas, principalmente, os exemplos de suas atitudes.
Em sua maioria, o corpo docente de então era formado por estudantes universitários que cumpriam a docência pela carência de profissionais devidamente qualificados para tal.
Essa condição nos favorecia manter uma ponte com a Universidade a respeito da qual, através deles, adquiríamos informações pertinentes a tudo que se referia ao vestibular.
Minha turma conservou sua formação desde o primário no Colégio Dom Bosco. Na época em Itabaiana só tinha o curso ginasial no CEMB. A aprovação do teste de admissão agregava alunos provenientes de diferentes escolas.
Com a organização de turmas, considerando a faixa etária que era utilizada pela direção da saudosa Maria Pereira, formávamos sempre a turma “A” que se caracterizava pela menor idade na respectiva série.
Passado os quatro anos do ginásio, havia uma separação, conforme a opção dos estudantes, variando entre o Curso Normal - que já profissionalizava - com o Curso de Formação de Professores Primários e o Curso Propedêutico - Científico - que apenas objetivava o Concurso Vestibular para continuar os estudos no Nível Superior.
Hoje recebi com tristeza a notícia do falecimento de um colega de Murilo Braga: José Francisco de Andrade. Era assim que na chamada os professores a ele se referiam.
Estudamos os três anos do Curso Científico na mesma turma. Eu sentava sempre na primeira carteira da fila do meio, logo à frente do birô do Professor. Ele, na segunda fila, logo atrás de mim.
Fomos da primeira turma de Científico diurno do CEMB. O certo é que de quarenta e oito alunos restaram vinte e cinco para a chamada das aulas do primeiro ano Científico do Turno Vespertino.
Começava uma nova etapa das nossas vidas. Os conhecimentos que doravante fossem aprendidos nos gabaritariam para os estudos na Universidade.
Lembro bem de como nos comportávamos em sala de aula. Quanta responsabilidade assumida por todos nós, colegas de turma!Também, quantos nos influenciávamos uns como os outros, dando o máximo de nós e tentando conseguir êxito para melhor encaminharmos nossos passos para a vida.
Com essa condição de visualizar o futuro é que frequentávamos diariamente as aulas.
Não nos furtávamos de assistir a todas, em sua integralidade. Estarmos atentos às explicações, anotando direitinho o esquema feito pelos professores no quadro de giz e todas as conclusões era uma prática que, em si, já nos favorecia uma boa aprendizagem.
Lembro que muitas vezes chegando à sala no primeiro horário em dia de teste, sentava silenciosamente com a intenção de me concentrar e Zé Francisco me indagava:
- Tereza, você estudou para o teste? E minha resposta sempre era positiva. Como poderia fazer um teste sem ter antes estudado?Respondia-o.
E ele continuava:
- Quais são os pontos mais importantes e que você considera que servirão de perguntas pelo professor? Qual dos assuntos você mais entendeu?
E eu, em minha inocência, respondia; fazendo, sem perceber, o jogo dele: explicar de última hora em síntese o que realmente importava.
Era uma forma inteligente de ele estudar sem fazer esforço.
E muitas vezes ele conseguia melhores notas do que eu!
Fazia o teste baseado nas nossas conversas que aconteciam minutos antes do professor entrar com as avaliações na sala.
Essa lembrança me faz guardar o quanto ele era inteligente e amadurecido.
Quanto tinha de foco nas coisas que considerava essenciais.
Sabia regrar o tempo para o estudo e a diversão.
Desde cedo demonstrava um tom de voz de locutor. Notávamos isso quando fazia leitura de um texto a pedido de algum professor.
Infelizmente, não enfrentou os bancos universitários. Daria um grande jurista. Preferiu o caminho da comunicação e o da política partidária. E, nessa caminhada, sem o aspecto da ganância, não acumulou bens, mas experiências pessoais que o tornaram ímpar e que, no dia de hoje, as homenagens falaram por si.

domingo, 13 de junho de 2021

Lágrimas ao vento

 


Lágrimas ao vento

Tereza Cristina

Eis que passou mais um 13 de junho!

As luzes da cidade já substituem a claridade natural do dia. Os últimos raios de sol no poente se misturam entre nuvens brancas feito algodão colorido. Por um instante, aquela paisagem do firmamento me fascinou e, sem nenhuma explicação, me trouxe uma breve nostalgia. Tudo conspirava para que aquela sensação me desse uma enorme saudade.

Por essa hora, uma multidão ainda acompanhava exausta o nosso padroeiro. E nada é mais nosso que esse ato. Uma mistura de religião e cultura.  De festa e oração. Nas calçadas por onde a procissão passa, outros devotos aguardam um instante para simplesmente olhar o andor. Cada ano ele traz uma novidade. Já não é mais um simples andor. Virou uma pomposa alegoria. Sempre rodeado de flores naturais cobiçadas por quem acredita que pegando ao menos um galho terá o seu desejo atendido. Fogos de papoco são como cornetas anunciando que a procissão se aproxima. Servem também para causar um reboliço interior. E de nada adianta buscar uma lógica em tudo isso.

Todo ano é assim: em meio à euforia de nossa gente, há também quem passe eventualmente ao mesmo tempo pelas calçadas e nem veja sentido. Certamente não tem sua ascendência nesta “Pedra Bonita”. É compreensível também.  Seu olhar não percebe o significado deste costume que tem origem secular. Nunca ouviu nem sequer falar de Sebrão Sobrinho; não soube da intenção do Padre Sebastião, que ao vender seu sítio localizado na Caatinga de Ayres da Rocha, quis ver concretizada a criação da Freguesia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, sob a condição de nela ser reedificado um templo sob esta invocação. Talvez não seja nem descendente de outro Itabaianense.

Entre tantos costumes locais, a veneração ao santo padroeiro é a nossa mais remota forma de expressão cultural que o passar dos anos fortalece. Se acaso assimila as novidades de cada época, essas variações não chegam a interferir no sentimento profundo que une toda a gente. Por treze dias, nossa cidade abraça o sonho do padre Sebastião em estado de festa, de certa forma celebramos sua história. E, ainda que, conjugando o sagrado e o profano, nos tornamos muito mais filhos de Itabaiana. É uma celebração cultivada ao longo de séculos com marca histórica da música. Ouvir velhos dobrados de autoria de Samuel Pereira de Almeida, de Esperidião Noronha, de Boanerges de Almeida Pinheiro, entre outros compositores da também secular Filarmônica N. S.ª da Conceição, é um passeio no tempo.

Independente da dimensão cultural, ultimamente, ao ver o andor de Santo Antônio, os meus olhos não conseguem segurar lágrimas ao vento! E, quando ele passa, leva consigo a brevidade de um momento, deixando na efêmera presença a lembrança dos ausentes, daqueles que já não estão mais por aqui, dos que outrora também se enfileiravam para recorrer a Antônio seus clamores.

Assim, mesmo que tenha diversos sentidos, os festejos do padroeiro são uma forma de irmanados pela fé, pela tradição ou pelo lazer, preservarmos nossa cultura, de conservarmos nossa identidade, que é reforçada não apenas pela crença, mas pelas recordações que trazem na memória viva de nosso lugar e pelo sentimento deixado para as novas gerações, um grande legado que se constitui no orgulho de ter nascido em Itabaiana!

domingo, 23 de maio de 2021

Energia de atração


 

 

Energia de atração

Tereza Cristina

 

Tem mais de um ano que estou isolada cuidando de meu pai, um idoso de 95 anos e do meu irmão especial. Minhas atenções voltadas para o cotidiano me deram muitas atribuições. Vivi esse tempo um altruísmo nunca antes experimentado. Eis que, no entanto, toda essa ocupação não me impediu de sentir um interesse especial. Surgiu assim como do nada... Sem busca, sem pretensões... Veio naturalmente e apesar de eu hesitar, foi se deixando em mim pelos constantes pensamentos. Entre uns afazeres e outros, comecei a me pegar numa cilada talvez do cupido. Ele nem sempre nos avisa. Chega do nada. Eu de minha parte, depois de tantos desenganos, fui protelando e resistindo até quando pude. Imaginei inicialmente ser a carência do momento. Depois percebi que se assim fosse me questionei por que eu não senti essa sensação em outras ocasiões que fui provocada virtualmente e que simplesmente ignorei?

A vida nos apresenta suas curvas cheias de surpresas. Nelas os mistérios impedem a nossa compreensão. Certamente esta tem os limites da pouca sabedoria. Não podendo eliminar esse anseio, a minha carga de experiência de vida me aconselha silenciosamente a deixar fluir... Não é hora para expectativas. Nem tão pouco para renuncias. Viver o momento com serenidade, entendendo que a situação do confinamento está contribuindo para o amadurecimento das emoções. No que resultará? Ninguém sabe. Nem mesmo se eu me angustiasse e buscasse respostas. Mesmo que alguns se alvorem de possuir premonições o futuro não é um caso determinado pelo destino. Existe o livre arbítrio. Nele nossas contribuições para um possível sucesso.

O surgimento de um interesse tem como explicação a força de atração da energia entre pessoas que têm em algum momento seus caminhos cruzados e, como por encanto, se encantam uma com a outra.

Permitir essa construção é antes de tudo fazer existir a história de vidas. Cautelosamente, sem a euforia da insensatez, devemos obedecer os limites impostos pela pandemia e esperar as possibilidades que sendo para o bem comum, venham acontecer.

Posso até me parecer muito racional.  Entretanto, a maturidade me convida a entender esse sentimento como já sendo uma dádiva que poucos experimentam mesmo com a presença física.

Dessa forma, pretendo usufruir das emoções até quando elas sobreviverem. Não importando no  que virá.

 

domingo, 16 de maio de 2021

Transgressão ou humanização?!


 

 

 

 

Transgressão ou humanização?!

 

Tereza Cristina

 

 

Era para obedecer ao sistema... Mas ele resolveu brincar e ler exercitando o amor. Assim assustou a todos.

Sua mãe se preocupou e  por precaução o levou ao médico.

Um diagnóstico revelou uma grave patologia. Recebeu a prescrição e, se enquadrou, mascando chiclete e assistindo TV.

Um horror?! Nem tanto... Não há de ser nada.

O tempo passou... O mundo pesou, mas não há de ser nada.

Chegou à juventude.  Essa que veio depois de depois da minha.

Certamente saberá se sair. Irá saber encontrar seus trilhos, vai escapar do obscurantismo. Talvez não pela consciência do conhecimento, esse passou longe, mas pela festa intuitiva de se encontrar na praça. E, na intuição, vai fazer da força juvenil um acalento, um movimento no sentido certo. Vai deitar com muitas garotas... Ou garotos... Sabe-se lá...

Vai aceitar ou se indignar quando for conveniente.

O ímpeto da participação política, o gosto de participar, o sentimento romanceado de estar fazendo parte da história, mesmo sem a conhecer bem, ainda que enviesado, que traga o cheiro da alienação, a causa anunciada como foco - a educação – o colocará entre os jovens que protestam por alguma causa. Nem que seja uma do tipo “sei lá, entende?!” Ao menos, a observação da força do coletivo há de alocar algo no arcabouço experimental enquanto estudante. Terá a sensação de ser útil. Por isso, poderá perceber algum sentido na sua vida. Mesmo que pareça medíocre, quando o comportamento se contrapõe ao vazio existencial que o modelo mercadológico impõe aos menos experientes surgirão possibilidades.

Assim, participará da ação política da "turminha", mesmo que desprovida da argumentação consciente. Parecerá importante.

Haverá críticas. Ele se chateará. Terá pouca paciência e poderá revidar com gritos, berros, força bruta... Mas, também poderá despertar para a leitura, para a busca do conhecimento, para uma conscientização bem amparada, para a construção de alicerces verdadeiros e de embasamentos reais. Usará do livre arbítrio.

Fora isso, mesmo que por mera coincidência, o movimento de sua vida correrá na direção das mudanças... Estará motivado para  o refazer-se. Seja lá qual for a desculpa da motivação, será extraordinária: lutar!

Lembrará as alegrias gratuitas quando um dia pode brincar e criar...

Sentirá saudades. Repensará... E já adulto, perceberá que um pequeno espaço livre lhe proporcionou ser gente. Gente que vivenciou o lado da luz e pode até cair nela. Que bom!

Concluirá então que bater panelas da varanda para defender de forma alienada a causa dos que  alienam é de fato uma perda de tempo na vida.