Seu Bebé: Meu
pai!
Tereza Cristina
Hoje,
dia dos pais, lembro muito da minha mãe... Como não lembrar se ela foi quem o
escolheu? Nesta lembrança, recordo situações marcantes, protagonizadas por
minha mãe, para realçar a figura de meu pai.
Certa
vez, no início de minha infância, em presença dos meus pais, alguém me perguntou
de quem eu gostava mais. E eu, com apenas dois anos de idade de forma ingênua, respondi
que era da minha mãe. Ela instantaneamente me repreendeu dizendo: “não Tereza
Cristina, você deve gostar de papai e de mamãe por igual; não deve ter
preferência de amor. Nós dois, seu pai e eu, somos importantes para você.” Nessa
mesma época, vivia próximo dos meus avós maternos e sentia que eles tinham por
meu pai um sentimento dedicado aos seus filhos tanto que o aprovavam.
Episódios semelhantes nunca saíram de minha
mente e a partir deles fui construindo ainda mais um afeto e uma admiração por
minha mãe que me fez aprender a conhecer o ser humano incrível que é meu pai.
Com
ele, aprendi que a figura paterna não tem que se enquadrar nos requisitos
estabelecidos pela nossa cultura machista. Que apesar da função biológica que a
mãe tem de acolher no seio sua prole para amamentar, o abraço do pai tem que
servir de proteção tanto quanto o calor do leite materno. Que este abraço deve
alcançar os gestos que para além dos braços dizem da proteção aos filhos. Um
abraço que mesmo na sua ausência, permaneça e proteja. Que essa proteção extrapole
sua condição social e econômica e assim, não tenha como medida o seu poder
aquisitivo. Foi nessa perspectiva que cresci arrodeada de carinho e tudo o mais
me veio. Tudo o que era essencial. Nada ‘em ordem de pobre’ faltou.
Por
vezes me peguei sendo questionada sobre a figura de meu pai. A sua pouca
leitura, a sua simplicidade, a sua imagem que aprendi a admirar foi certo dia colocada
à prova por uma prima. Convicta de suas teorias, disse que minha mãe deveria
ter muito cuidado com o desenvolvimento de meu irmão; ela apontava a influência
que um pai tinha sobre um filho ‘homem’ e de forma negativa, alertava sobre a
extensão dessa influência com relação à meu pai. Minha mãe que tinha a
sabedoria de discernir o momento de contestar ouviu calada e posteriormente, com
o coração magoado, falou comigo a respeito daquela conversa. Nessa época, já me
encontrava nos bancos universitários e por isso mesmo percebi quão importante
era o conteúdo do diálogo promovido por minha mãe a esse respeito. Outra situação que me entristeceu foi escutar
uma opinião que argumentou o término de uma relação de namoro com a
justificativa de que se meu pai fosse estudado ou rico ela não teria ocorrido.
Com certa melancolia, comentei esse fato com minha mãe que prontamente me
consolou dizendo que se isso fosse verdade essa pessoa não me mereceria por não
conseguir perceber os valores fundamentais da vida. Nesse instante, realçou meu
pai como um provedor que em circunstâncias difíceis de nossa vida com boa
vontade, providenciou recursos para possibilitar a superação de passagens
familiares que envolviam questões de saúde. E, foram momentos como esse que a
vida nos impõe limites, que não fosse sua visão esperançosa para as
possibilidades, sua persistência e sua garra não teriamos alcançado a superação
das dificuldades.
Hoje,
encontro-me convivendo com meu pai e com a posição invertida de quem cuida ao
modo de quem foi cuidada e de quem se exemplifica nos cuidados que a família
recebeu. Vendo sua fragilidade física, mas com sua lucidez ainda preservada,
tenho a certeza de que devo agradecer pelo pai que Deus me concedeu. Confiando
na proteção espiritual que emitem boas energias ao nosso convívio, rogo pela
sua saúde e vida, agradecendo pela companhia amorosa de quem sempre desejou
tudo de melhor para sua família.