sábado, 29 de fevereiro de 2020

Para além da mera informação


Para além da mera informação
Tereza Cristina

O nosso Planeta virou uma grande Aldeia quando as informações passaram a acontecer em tempo real diminuindo as distâncias entre os povos. Podemos assim constatar esse lado bom no uso da tecnologia para a vida humana.
Diante disso, obtivemos o conhecimento das diversidades culturais. A partir desse conhecimento, temos a possibilidade de romper limites no modo de viver e pensar. Temos a condição de ampliar nossa visão de mundo e compreender as diferenças existentes. Apesar de essas diferenças parecerem estranhas ao nosso olhar individualista no primeiro momento, posteriormente, compartilhadas com afeto, convergem para um ponto comum: a essência do Ser.  
Como Ser inteligente, emotivo, pensante e sensível, o homem consegue encontrar na humanidade o que mais lhe aproxima dos demais, independente de espaço ou de tempo. Encontra-se no que é universal na vida humana. Descobre-se humano e que apenas isto lhe iguala às  pessoas que vivem e convivem buscando a felicidade. Que para sobreviver, procuram aprender a superar possíveis dificuldades que normalmente são objeto de estudo, transformando em conhecimento historicamente acumulado e transmitido para as gerações seguintes.
Esse percurso de evolução humana, construído ao longo do tempo, nos trouxe grandes avanços científicos e tecnológicos. Entretanto, não conseguiu anular a sua fragilidade perante a grandiosidade da Natureza e do funcionamento do Universo.
O exemplo disso tem a espera de fenômenos previstos pela meteorologia que deixam o mundo em alerta e todos apreensivos.
O que poderia ter sido apenas uma notícia na tela da TV ou nas diversas postagens das redes sociais da internet, passou a ser visto com os olhos do coração, promovendo um sentimento geral de solidariedade.
 Saber dos acontecimentos ocorridos em lugares distantes através de noticiário da TV tem um efeito emocional bem parecido com o de um roteiro de filme. O sofrimento ou a alegria humana ganha semelhança a uma ficção, embora também proporcione emoções do outro lado da telinha. Todavia, quando os acontecimentos são transmitidos ao vivo e descritos não com uma versão jornalística, mas no modo original, com palavras ditas pelos próprios personagens, conseguem chegar não como notícia, mas como relato de vida real.
Assistir vídeos que registram o fato em tempo real nos dá a sensação de estarmos vivendo a mesma condição. As reações consequentes do medo do desconhecido, da imprevisibilidade da Natureza, nos causa um sentimento com intensidade aproximada às situações de fato vividas.
Em meio às incertezas e aos temores nasce um jeito novo de estar no mundo. Mais que uma simples comunicação que encurta distâncias, a tecnologia utilizada pela rede de computadores interligados e que possibilita o acesso a informações sobre e em qualquer lugar do mundo é uma maneira nova de promoção humana entre seus usuários.
                                                                                                              

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Entre o hoje e o amanhã

Entre o hoje e o amanhã

(Tereza Cristina)

Agora, meus olhos encharcados
Preferem o infinito.
O chão onde hoje piso é árido e
Comporta pedaços de vidas.
Evitando esmagar
Meus pés temem nele caminhar
E crio asas.
Antecipando outra paisagem
Onde tudo é um quadro sem moldura,
O tempo voa.
E em um piscar
Meus olhos salvam o agora
Com a esperança no infinito.


domingo, 23 de fevereiro de 2020

É Carnaval e eu não estou com fantasia



É Carnaval e eu não estou com fantasia
Tereza Cristina
É carnaval, mas o silêncio de minha cidade me faz sentir em um retiro espiritual. Nesse clima de calmaria, abro alas para minha alma e encaro a bateria que dá um toque molhado aos meus olhos. Na comissão de frente, chegam alguns pensamentos que definem o meu pensamento, saudando as lembranças e deixando que as emoções fluam de acordo com o compasso de um samba enredo que tem como tema a nostalgia. Sinto um vazio que combina com a quebra da rotina do meu lugar. O transito quase inexistente faz lembrar as ruas de minha infância quando os meninos faziam delas um campo para jogar futebol de tão raro era a passagem de um automóvel. Naquele tempo, eram contados os donos de um carro. As bicicletas davam o ar de brincadeira de adultos e se sobressaiam.
Na época do carnaval, os garotos costumavam enfeitá-las e adicionar uma buzina própria que anunciava o tempo de folia. Já no sábado, na feira livre um auto-falante público no Largo Santo Antônio tocava as famosas marchinhas de carnaval e no domingo em uma esquina da Praça João Pessoa, bem em frente à casa de minha tia Cristina, o dentista prático Eduardo Porto colocava uma caixa de som com as canções do Capiba para alegrar os transeuntes. Gostava daquelas melodias que atiçavam minha imaginação sobre um carnaval das ruas do Recife, imaginando como o frevo contagiava a todos.
A esse respeito, meu pai era vendedor ambulante de tecido em feiras livres. Em seu boteco o embrulho se valia das páginas das revistas Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, que o jornaleiro não conseguindo vender a tempo, o oferecia por um preço razoável os números atrasados sem a capa. Todas as vezes que ele as adquiria sempre separava um exemplar para que eu lesse. Gostava de ver as fotos e reportagens sobre o carnaval. As fantasias e os foliões chamavam a minha atenção pela beleza dos desfiles e pelo registro da alegria que juntava multidões nas ruas do Recife. Naquelas páginas, tudo era encantador: as sombrinhas que caracterizam o frevo, os passistas nas ruas se divertindo, as pedrarias das roupas nos corpos carnavalescos, os fantasiados para o baile tradicional do Copacabana Palace davam um colorido especial às páginas que após o período do carnaval circulava para o deleite dos que não podiam participar e se bastavam em apreciar mesmo que através de uma revista. Claro que essa era a única forma de compartilhar notícias por todo o país. A TV ainda não existia por aqui.
Tais lembranças me deixam meio melancólica. O tempo que trouxe as imagens ao vivo da TV e depois da internet aos poucos tirou a poesia nas pessoas. Por isso, enquanto permito avivar tais recordações, não faço o mesmo com a alegria fantasiosa. É da crueza da vida que hoje sinto as questões mais difíceis de serem respondidas. Diante de obrigações cotidianas, me nego a fantasias e descubro no silencioso dia essas palavras saídas do peito e não ditas como quem procura o que nunca será encontrado.