sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Aos homens de boa vontade



Aos homens de boa vontade

Tereza Cristina

Desde criança, na medida em que posso lembrar, não sou dada à alegrias extraordinárias, daquelas que soltam gargalhadas espalhafatosas. O contentamento em mim, é intensamente vivido, mas, experimentado com calma saboreando devagar e profundamente. Esse modo de sentir me ajuda a ter constantemente uma reserva de felicidade apenas tendo guardado as boas lembranças de pequenos momentos que me fizeram bem. Nesse ensaio de serenidade me habituei à prática da reflexão sobre as diversas ocasiões da vida.

Em razão disso, sou avessa à disputas, à competitividade e a quaisquer situações que resultem em resultados de “derrota” ou “vitória”. Prefiro pensar a vida sob a ótica da cooperação, onde os contrários não precisam ser antagônicos, mas, forças que se complementam e, que, se aliadas, se fortalecem em vista um bem maior.

Compreendo assim a vida humana, que se fragiliza na sua individualidade e se fortalece no compartilhamento colaborativo. O sentimento humano, por mais sublime, perde o sentido quando não contagia, quando se isola. Isso se deve ao caráter social do ser humano. Dessa forma, os homens se constroem em grupos, desde o familiar até às grandes nações.

Caso similar acontece em ocasiões de escolha dos líderes de uma sociedade. Estamos vivenciando as vésperas de uma eleição municipal. Nela serão escolhidos os representantes do poder legislativo e executivo de cada município deste país.  Mesmo que para esse processo acontecer seja preciso colocar a disputa eleitoral, a responsabilidade cidadã dos vencedores deverá alcançar a importância da ocupação do cargo público. 

Sabemos que durante uma campanha, influenciadores embasam seus argumentos realçando os erros cometidos e em contra ponto induzem o surgimento de projetos utópicos com finalidade populista. Para isso, semeiam o emocional da população muitas vezes embaçando a percepção do eleitorado que decide seu voto sem a devida consciência. Como exemplo de tais fatores, temos as notícias falsas que num misto de malícia e plano estratégico para obtenção dos objetivos produzem em larga escala a polarização na opinião pública com um agravante, determinando a falta de respeito mútuo entre cidadãos que confluem suas vidas em um mesmo espaço social. Consequentemente, a vida social perde o caráter da razão pelas atitudes permeadas de amor e ódio determinando assim um comportamento nocivo aos concidadãos.

Via de regra, esse é o modo operante no processo da disputa do poder.  Uma vez encerrada essa etapa, cabe aos  vencedores a difícil tarefa de superação dessa dicotomia em favor da vida social. É então  fundamental a tomada da consciência do papel social que possuem; eles serão  responsáveis pela condução da coletividade. Temas de importância atual como os relacionados a biopolítica que talvez tenham sido pouco explorados no processo da campanha eleitoral, devem a partir de então serem priorizados sob pena da má  interferência na qualidade de vida para toda sociedade. Para isso, torna-se necessário um amadurecimento do olhar das políticas públicas que favoreçam a melhoria de vida de modo geral.

Portanto, para além das comemorações desenfreadas, o momento requer dos vitoriosos, serenidade e, a colaboração de todos, na certeza de que terão o peso da responsabilidade do comando em um momento historicamente difícil, permeado de  desafios e para isso necessitado de humanização em busca de saúde, prosperidade e harmonia de todos os cidadãos que tenham ou não neles votado.

Nessa perspectiva, é que assumir os cargos públicos não é um privilégio, mas, uma enorme responsabilidade. Com essa consciência, deverão enfrentar o momento com menos celebração e mais reflexão. No entanto, em meio a toda essa árdua missão,  para os “Homens de Boa Vontade” a energia do Universo conspirará a seu favor.

Que nas alegrias silenciosas da celebração dos vitoriosos estejam presentes as súplicas para o sucesso de todos!

 

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Pensando e sentindo

 

Pensando e sentindo
Tereza Cristina in: Vida-Lida

 
Hoje, estive pensando muito.
Sentindo muito...
Pensei em momentos coloridos
Que minha lembrança fotografou...
(Não tem como lhes mostrar...).
São registros emocionais,
Feitos de atitudes,
De decisões pessoais;
Talvez, para vocês,
Experiências banais...
Para mim,
São sentimentos meus
Embora divididos,
A maior parte ficou comigo.
Sentimentos meus
Vividos tão de perto
Que deixaram minha vida
Numa tela cheia!
Agora, procuro uma moldura.
(espero que saiba escolher)
Enfeitarei os meus olhos
Para que eles não percam de vista
A alegria de viver!

terça-feira, 9 de junho de 2020

Rasgando o tempo




Rasgando o tempo
Tereza Cristina

Quando tudo fica difícil me vejo tão pequena e então me lembro do que foi chegar até aqui.
Pareceu que foi há instantes atrás: brincadeira de bonecas, esconde-esconde, colo de mãe... E eu, tão entretida nas ilusões, nem percebi que o tempo passou!

Tenho o hábito de viver o tempo em profundidade por isso não costumo contar os dias, semanas, meses e anos... Mas, o fato é que o tempo não espera. Apesar disso, como um efeito de magia, ele não conseguiu tirar de mim ocasiões vividas com intensidade e com amorosidade. Delas, tiro proveito. Com minha memória afetiva alimento os meus sonhos deixando o momento presente sempre mais bonito. Dessa forma aprecio a vida que no girar nos seus ciclos vai emoldurando cenas que ficam mais coloridas quando vistas à distância.
Este movimento do tempo inquieta o olhar e transforma o simples 'ver' em um cuidadoso 'perceber', ampliando assim o horizonte.

 Sem o passar do tempo não haveria esse painel de situações vividas. Não se teria um olhar mais apurado que percebe o bonito, não se ouviria os sons da alegria que saem do coração. 
Essas alegrias não se explica.  Até podemos com palavras guardá-las.  Por isso se escreve.
Mas, se escrever o que pensamos pode ser útil, é no registro 
 dos nossos sentimentos que encontramos o sentido maior de tudo o que vivenciamos. Mesmo quando tem um toque de melancolia.
Pode parecer escuridão o que a melancolia traz. Mas é dessa sensação de desânimo que vem a descoberta do que nos falta, do que nos alegra. Nisso, surge uma luz. Ao menos um ponto de luz.  Essa luz que clareia a consciência para o essencial da vida.  Alcancamos esta luz na nossa propria estrela.  Todos têm uma estrela. Mesmo que distante, a estrela de cada um existe. Basta dar passagem à esperança e perceber o seu brilho. Depois com o tempo tudo será compreendido. 
Para não perder de vista essa Luz é que existe a palavra. Escrever o sentir e o pensar sobre o passar do tempo, é mais que guardar a vida. É adquirir uma reserva capaz de abastecer o calor humano nas ocasiões de ausências.
Agora, neste silêncio, folheando mentalmente o painel de momentos, rasguei o tempo e à certa distância percebi que eles denunciam uma história. E que as mais proveitosas lições são tiradas de momentos quando tudo parecia desencanto.


segunda-feira, 16 de março de 2020

Para a história contar


Para a história contar
(Tereza Cristina)

 Feito de sonhos e medos
seguem quase todos 
amparando os pingos d'água
cabisbaixos e sozinhos

Em meio à muitos
uma esperançosa 
viva d'alma
não perde a alegria

Enquanto isso
os amedrontados 
e inseguros
só veem o próprio chão 

Há de sobreviver
o conhecimento e a Fé 
quando tudo passar
para a história contar


sábado, 29 de fevereiro de 2020

Para além da mera informação


Para além da mera informação
Tereza Cristina

O nosso Planeta virou uma grande Aldeia quando as informações passaram a acontecer em tempo real diminuindo as distâncias entre os povos. Podemos assim constatar esse lado bom no uso da tecnologia para a vida humana.
Diante disso, obtivemos o conhecimento das diversidades culturais. A partir desse conhecimento, temos a possibilidade de romper limites no modo de viver e pensar. Temos a condição de ampliar nossa visão de mundo e compreender as diferenças existentes. Apesar de essas diferenças parecerem estranhas ao nosso olhar individualista no primeiro momento, posteriormente, compartilhadas com afeto, convergem para um ponto comum: a essência do Ser.  
Como Ser inteligente, emotivo, pensante e sensível, o homem consegue encontrar na humanidade o que mais lhe aproxima dos demais, independente de espaço ou de tempo. Encontra-se no que é universal na vida humana. Descobre-se humano e que apenas isto lhe iguala às  pessoas que vivem e convivem buscando a felicidade. Que para sobreviver, procuram aprender a superar possíveis dificuldades que normalmente são objeto de estudo, transformando em conhecimento historicamente acumulado e transmitido para as gerações seguintes.
Esse percurso de evolução humana, construído ao longo do tempo, nos trouxe grandes avanços científicos e tecnológicos. Entretanto, não conseguiu anular a sua fragilidade perante a grandiosidade da Natureza e do funcionamento do Universo.
O exemplo disso tem a espera de fenômenos previstos pela meteorologia que deixam o mundo em alerta e todos apreensivos.
O que poderia ter sido apenas uma notícia na tela da TV ou nas diversas postagens das redes sociais da internet, passou a ser visto com os olhos do coração, promovendo um sentimento geral de solidariedade.
 Saber dos acontecimentos ocorridos em lugares distantes através de noticiário da TV tem um efeito emocional bem parecido com o de um roteiro de filme. O sofrimento ou a alegria humana ganha semelhança a uma ficção, embora também proporcione emoções do outro lado da telinha. Todavia, quando os acontecimentos são transmitidos ao vivo e descritos não com uma versão jornalística, mas no modo original, com palavras ditas pelos próprios personagens, conseguem chegar não como notícia, mas como relato de vida real.
Assistir vídeos que registram o fato em tempo real nos dá a sensação de estarmos vivendo a mesma condição. As reações consequentes do medo do desconhecido, da imprevisibilidade da Natureza, nos causa um sentimento com intensidade aproximada às situações de fato vividas.
Em meio às incertezas e aos temores nasce um jeito novo de estar no mundo. Mais que uma simples comunicação que encurta distâncias, a tecnologia utilizada pela rede de computadores interligados e que possibilita o acesso a informações sobre e em qualquer lugar do mundo é uma maneira nova de promoção humana entre seus usuários.
                                                                                                              

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Entre o hoje e o amanhã

Entre o hoje e o amanhã

(Tereza Cristina)

Agora, meus olhos encharcados
Preferem o infinito.
O chão onde hoje piso é árido e
Comporta pedaços de vidas.
Evitando esmagar
Meus pés temem nele caminhar
E crio asas.
Antecipando outra paisagem
Onde tudo é um quadro sem moldura,
O tempo voa.
E em um piscar
Meus olhos salvam o agora
Com a esperança no infinito.


domingo, 23 de fevereiro de 2020

É Carnaval e eu não estou com fantasia



É Carnaval e eu não estou com fantasia
Tereza Cristina
É carnaval, mas o silêncio de minha cidade me faz sentir em um retiro espiritual. Nesse clima de calmaria, abro alas para minha alma e encaro a bateria que dá um toque molhado aos meus olhos. Na comissão de frente, chegam alguns pensamentos que definem o meu pensamento, saudando as lembranças e deixando que as emoções fluam de acordo com o compasso de um samba enredo que tem como tema a nostalgia. Sinto um vazio que combina com a quebra da rotina do meu lugar. O transito quase inexistente faz lembrar as ruas de minha infância quando os meninos faziam delas um campo para jogar futebol de tão raro era a passagem de um automóvel. Naquele tempo, eram contados os donos de um carro. As bicicletas davam o ar de brincadeira de adultos e se sobressaiam.
Na época do carnaval, os garotos costumavam enfeitá-las e adicionar uma buzina própria que anunciava o tempo de folia. Já no sábado, na feira livre um auto-falante público no Largo Santo Antônio tocava as famosas marchinhas de carnaval e no domingo em uma esquina da Praça João Pessoa, bem em frente à casa de minha tia Cristina, o dentista prático Eduardo Porto colocava uma caixa de som com as canções do Capiba para alegrar os transeuntes. Gostava daquelas melodias que atiçavam minha imaginação sobre um carnaval das ruas do Recife, imaginando como o frevo contagiava a todos.
A esse respeito, meu pai era vendedor ambulante de tecido em feiras livres. Em seu boteco o embrulho se valia das páginas das revistas Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, que o jornaleiro não conseguindo vender a tempo, o oferecia por um preço razoável os números atrasados sem a capa. Todas as vezes que ele as adquiria sempre separava um exemplar para que eu lesse. Gostava de ver as fotos e reportagens sobre o carnaval. As fantasias e os foliões chamavam a minha atenção pela beleza dos desfiles e pelo registro da alegria que juntava multidões nas ruas do Recife. Naquelas páginas, tudo era encantador: as sombrinhas que caracterizam o frevo, os passistas nas ruas se divertindo, as pedrarias das roupas nos corpos carnavalescos, os fantasiados para o baile tradicional do Copacabana Palace davam um colorido especial às páginas que após o período do carnaval circulava para o deleite dos que não podiam participar e se bastavam em apreciar mesmo que através de uma revista. Claro que essa era a única forma de compartilhar notícias por todo o país. A TV ainda não existia por aqui.
Tais lembranças me deixam meio melancólica. O tempo que trouxe as imagens ao vivo da TV e depois da internet aos poucos tirou a poesia nas pessoas. Por isso, enquanto permito avivar tais recordações, não faço o mesmo com a alegria fantasiosa. É da crueza da vida que hoje sinto as questões mais difíceis de serem respondidas. Diante de obrigações cotidianas, me nego a fantasias e descubro no silencioso dia essas palavras saídas do peito e não ditas como quem procura o que nunca será encontrado.