Armarinho
“Tem-Tem”: um lugar encantado!
Tereza Cristina
Quanta saudade do tempo da Feirinha
de Natal!
Talvez
esta saudade não seja por acaso. Lembranças invadem o agora como se fosse um sonho!
O
mês era dezembro. O céu azulado coloria a vida com a luminosidade âmbar do sol
e, quando anoitecia, dava visibilidade às estrelas reluzentes. A nitidez do firmamento era uma lente de
aumento a promover emoções. O clima quente do fim de Primavera favorecia
celebrações ao ar livre. Pessoas vestiam-se melhor e cruzavam ruas e esquinas
para exibirem seu contentamento quando se encontravam. E todos apesar de conhecidos
agiam cerimoniosamente como se houvesse um longo tempo que se viram.
Embalados
nessa euforia do tempo de Natal, crianças saltitantes de felicidade, seguravam
as mãos de seus pais em busca de um passeio a pé. Como brinde, sempre recebiam guloseimas de
então. Algodão doce, pirulito de mel de abelha e pipoca faziam a gurizada se
contentar.
Estava
para entrar o terceiro ano da década de sessenta. Época dos anos dourados! Itabaiana
era uma cidadezinha de interior com um tímido comércio que ocupava os arredores
do Largo Santo Antônio que em dias de sábado abrigava a feira livre. A vida pacata de sua gente dava impressão de
certa tranquilidade.
Um
lugar encantado, cheio de vitrines coloridas por luzes que piscavam lentamente
e ajudavam a simular o movimento de brinquedos, aguardava por clientes. Era o
shopping que tínhamos! Funcionava em uma casa de esquina com muitas portas, uma
para cada balcão. Apesar de tantas novidades, a minha memória visual de
criança, conservou as ludicidades nele existente.
O
que mais chamava a minha atenção eram as bonecas lindas que ficavam em pé
dentro das caixas protegidas por um papel celofane. Elas sorriam como que
cumprimentavam os visitantes; pareciam ter vida. As da marca Estrela eram as
mais cobiçadas porque conseguiam ter muita semelhança com gente. Além de lindas
e risonhas, falavam, andavam e viravam a cabeça. Favoreciam o sucesso daquelas vitrines que
também exibiam brinquedos de corda para encher de vontade os olhos da
criançada.
Contemplar aquelas vitrines era um bom motivo
de querer passear. Algumas vezes ficávamos por um bom tempo apenas observando!
Logo, logo, aparecia seu Fefi, idealizador e dono daquele lugar que encantava a
todos! Além de
ser o dono, era uma pessoa convidativa; tinha
uma presença de espírito para deixar o ambiente encantado! Sempre
de bem com a vida, cumprimentava a todos com empolgação e, assim, conquistava
seus fregueses. Dedicava uma atenção maior às crianças que vidravam os olhos
nos brinquedos imaginando adquirir algum. Comunicava com a alegria verdadeira
que não vendia simples mercadorias, mas ilusões infantis.
No tempo de Natal o lugar era sugestivo
para a espera do Papai Noel. Carinhosamente, financiava uma passagem do Polo
Norte só para animar as festas natalinas da cidade. Bem no alto da parede do
lado de fora da edificação, letras com lâmpadas coloridas denominavam: Armarinho
"Tem-Tem"! Sei bem
que para os adultos importavam os lindos enfeites que ali poderiam encontrar,
mas para a memória de uma criança nada, nada importava mais que os brinquedos
exibidos naquelas vitrines.
Passaram-se tantos Natais e essa imagem nunca foi por
mim esquecida!