domingo, 18 de abril de 2021

Esperança!

 

Esperança!

Tereza Cristina

 

 Estou confinada há mais de um ano compartilhando diariamente a presença apenas de meu pai e um irmão. Ambos precisam de cuidados especiais.  Um pela idade e o outro pelos limites inerentes as sequelas deixadas pela paralisia cerebral ao nascer.

Quando se anunciou essa pandemia ouvi as recomendações dos que tinham gabarito para tal. Tratei logo de reorganizar a rotina doméstica e obedecendo as devidas orientações dos infectologistas cuidei de reeduca-los para um novo jeito de viver. Mesmo estando confinados, teríamos que cuidar com mais rigorosidade da higienização das mãos. Porém, a condição de locomoção de meu irmão me fez ainda mais isolada até mesmo de outro irmão e de seus filhos.

Não foi e nem está sendo muito fácil. Deixar de conviver com pessoas queridas por perto me faz sentir por vezes muito sozinha. A sorte é cumprir as tarefas diárias. Elas consomem o tempo quase integral do meu dia. Não fosse a capacidade de gratidão pela vida, pela saúde, pelo alimento, pela habitação tudo seria ainda mais difícil.  Em meio de tantas dificuldades enfrentadas por muita gente pelas perdas de seus entes queridos, de empregos, da garantia de sobrevivência, da moradia, me daria um sentimento de culpa não agradecer por todas as bênçãos recebidas.

 Busquei ajuda nas orações, e procurei com resiliência  disciplinar a minha rotina que associada ao afeto me abasteceu de forças suficientes  na busca de proteção dos que cuido.

Entretanto, mesmo sendo uma escolha pessoal o exercício do altruísmo chega um momento que a determinação dá lugar ao sentimento de fragilidade. É nesses instantes que entre lágrimas silenciosas e pensamentos remoídos, lembranças de momentos bons e esperanças de melhores dias, encontro uma maneira de expurgar toda emoção ruim.

Procurando entretenimento nas belas canções e respostas concretas que tragam alívio a toda humanidade, vou me alegrando com cada pequena situação que aponte para a superação dessa fase por que passa toda a face da Terra.

Uma grande alegria me veio das atitudes de muitos que em ainda jovens, entregam com boa vontade sua inteligência e seu tempo de vida ao estudo de descoberta da cura ou prevenção das doenças. Penso então na grandiosidade do processo educacional. Penso no caminho percorrido por tantos estudiosos que passam seus dias em laboratórios observando, analisando e avaliando procedimentos experimentais em busca de soluções para uma vida melhor.

Nessa perspectiva, vale concluir que o dia em que cada um de nós está recebendo a primeira dose de uma vacina é um portal que se atravessa para a esperança e não poderia ser diferente senão com a atitude de gratidão para com os que fazem a ciência. Eles se aproximam do Criador ao contribuir para o bem de toda humanidade. Que sejam cada vez mais por Ele abençoados!

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Apenas contemplar a vida!


 

 

Apenas contemplar a vida!

Tereza Cristina

 

Hoje acordei com vontade de silenciar minhas falas. Ontem havia muito barulho. Vozes me indagavam e em não tendo respostas me vinha uma aflição. Além do mais, elas aconteciam simultaneamente dentro de mim. Eram perguntas que não diziam respeito apenas à minha vida. Mesmo assim me afligiam. Testavam meu grau de altruísmo. Outras traziam questões profundas que nunca consegui compreender. Foi um enorme reboliço em minha alma e o meu corpo reagiu. Lágrimas molhando o meu rosto acalmavam meu coração. Ao contrário de me sufocar, sentia que serviram para romper a inércia típica desta fase de reclusão. Em outras ocasiões fora do confinamento seria motivo de conversa. Dessa vez não me importei em compartilhar para encontrar respostas. Despertei para um aspecto fundamental: as respostas não estão fora de nós.  Então percebi que o momento está me ajudando em rasgar as velhas roupas. Senti uma enorme gratidão. Pensei em ressignificar minha vida. Em rever meus valores. Em pensar nos meus verdadeiros motivos. Contudo, mesmo em forma exagerada, essa circunstância me favoreceu pensar por mim. E pensando sozinha tive condições de repensar. Ao meu modo. Sem interferência de opiniões. Repensar sobre ocorrências, suas circunstâncias... Ao longo de uma caminhada se pode olhar para trás e ver um caminho percorrido. Nele observar os erros e acertos. Na verdade se pode até confundir os dois. Basta lembrar as alegrias e tristezas por eles provocadas. Lembrar mais dos risos que das dores é uma opção de quem escolheu dá ênfase às alegrias durante essa jornada. E toda vez que a lembrança de uma alegria vem jogamos fora as dores.

Hoje joguei fora umas dores. Depois jogarei outras mais. Tudo em seu tempo. Ninguém soube. Por vezes é bem melhor. Assumi o papel de espectadora e fiquei contemplando a vida em tudo que pude ver, ouvir e sentir durante este dia. Apurei a minha percepção e foi muito proveitoso aprender comigo mesma!