Saborear
cada dia
Tereza Cristina
Os
dias não são iguais. O frescor da primavera não se demora mais que a própria
estação. Há dias em que os olhos chovem ainda que o inverno não tenha chegado.
As borboletas também podem surgir no final da tarde. Para isso, basta flores no
jardim.
Não
existe tempo para a vida. Ela brota em qualquer horário e em qualquer estação.
Tem dias que nasce mais vida. Tem outros que ela fica quieta por alguma razão.
Vale
lembrar as dores provocadas pelas perdas e ausências. Pensando bem, são
remédios para a alma aflita. Curam a aridez da vida com as lágrimas. Delas
surgem a irrigação necessária à metamorfose da vida. Por isso é preciso chorar
com alegria. Com a esperança de que momentos são únicos. E o que por nós são
vividos ninguém os tem. Não se repetem. Por isso são sagrados. “Tudo que move é
sagrado e remove montanhas...” por isso se deve pensar na beleza do sentimento
que eles deixam em nós. Os momentos por nós vividos nos acompanham grudados na
alma e não nos permitem entrar na solidão.
Assim
também, cada dia é um dia. E pode amanhecer até no seu crepúsculo. Faz-se de
milagre, mas nem sempre é canonizado. Quantos amanheceres tardios são
despercebidos ou rejeitados...!
As
cores do mundo povoam a vida, mas a visão do homem é embaçada pela ingratidão.
A Natureza nos oferece belas telas. Gratuitamente. De tanto comprarmos as
coisas, esquecemos as dádivas.
Aprendemos
muito pouco sobre ser feliz. É no silêncio que poderemos reaprender a ser
gente. Ele nos oferece a sabedoria de olhar e vê além do visto. E como desperdiçamos
nosso olhar fixando a atenção apenas na superfície da vida! “O essencial é
invisível aos olhos...”.
Cada
dia então é singular com possibilidade de momentos plurais. Cada dia na sua
finitude se faz único e então, fica eterno!
Mas,
colocamos dentro de nós muitas expectativas no dia seguinte. Aniquilamos o dia
vivido. Aniquilamos a soma de todos os dias vividos. E foram eles que nos
fizeram ser o que somos. Criamos esperas e procuras... elas fazem os dias
ficarem longos e vazios...nos deixam inertes, nos impedem de saborear os dias
um de cada vez.
Teimosamente,
os dias vividos hibernam em nós. Vivos! Mergulham nos nossos prantos e nadam
nas noites sombrias que criamos por ofuscar nossa luz própria.
Cada
dia nasce só uma vez, mas consegue se eternizar como que nos avisando:
“ninguém poderá dá-me vida no seu dia por você”.