domingo, 25 de agosto de 2019

Saborear cada dia




Saborear cada dia
Tereza Cristina

Os dias não são iguais. O frescor da primavera não se demora mais que a própria estação. Há dias em que os olhos chovem ainda que o inverno não tenha chegado. As borboletas também podem surgir no final da tarde. Para isso, basta flores no jardim.
Não existe tempo para a vida. Ela brota em qualquer horário e em qualquer estação. Tem dias que nasce mais vida. Tem outros que ela fica quieta por alguma razão.
Vale lembrar as dores provocadas pelas perdas e ausências. Pensando bem, são remédios para a alma aflita. Curam a aridez da vida com as lágrimas. Delas surgem a irrigação necessária à metamorfose da vida. Por isso é preciso chorar com alegria. Com a esperança de que momentos são únicos. E o que por nós são vividos ninguém os tem. Não se repetem. Por isso são sagrados. “Tudo que move é sagrado e remove montanhas...” por isso se deve pensar na beleza do sentimento que eles deixam em nós. Os momentos por nós vividos nos acompanham grudados na alma e não nos permitem entrar na solidão.
Assim também, cada dia é um dia. E pode amanhecer até no seu crepúsculo. Faz-se de milagre, mas nem sempre é canonizado. Quantos amanheceres tardios são despercebidos ou rejeitados...!
As cores do mundo povoam a vida, mas a visão do homem é embaçada pela ingratidão. A Natureza nos oferece belas telas. Gratuitamente. De tanto comprarmos as coisas, esquecemos as dádivas.
Aprendemos muito pouco sobre ser feliz. É no silêncio que poderemos reaprender a ser gente. Ele nos oferece a sabedoria de olhar e vê além do visto. E como desperdiçamos nosso olhar fixando a atenção apenas na superfície da vida! “O essencial é invisível aos olhos...”.
Cada dia então é singular com possibilidade de momentos plurais. Cada dia na sua finitude se faz único e então, fica eterno!
Mas, colocamos dentro de nós muitas expectativas no dia seguinte. Aniquilamos o dia vivido. Aniquilamos a soma de todos os dias vividos. E foram eles que nos fizeram ser o que somos. Criamos esperas e procuras... elas fazem os dias ficarem longos e vazios...nos deixam inertes, nos impedem de saborear os dias um de cada vez.
Teimosamente, os dias vividos hibernam em nós. Vivos! Mergulham nos nossos prantos e nadam nas noites sombrias que criamos por ofuscar nossa luz própria.
Cada dia nasce só uma vez, mas consegue se eternizar como que nos avisando: “ninguém poderá dá-me vida no seu dia por você”.