Jubileu
de Jorge Pi : meio século de vida!
Tereza Cristina
Aos
quarenta e dois anos de idade, minha mãe pariu seu terceiro filho. Aquele que
seria o único a possibilitar a continuidade de suas células através dos netos
que viriam: Ian e Sofia. Aos dezenove dias do mês de fevereiro do ano de hum
mil e novecentos e sessenta e oito, precisamente às dez horas da noite, nascia,
na Maternidade São José, de parto normal, Jorge Luiz Pinheiro Souza (o melhor parto dos três, contava ela). Sempre notei que ela tinha por ele uma
predileção maior. Isto nunca me incomodou. Ao contrário, me fazia crer que,
apesar de amar os três filhos por igual, essa preferência era um sentimento
natural. Quem sabe, poderia ser explicado na lembrança que tenho de uma prima
da minha mãe chamada Cilinha, que era adepta da Doutrina Espírita e insistia em
afirmar que Jorge Luiz seria a reencarnação do meu avô Boanerges. Minha mãe que,
apesar de ser Católica Apostólica Romana, no fundo dava margem ao seu
subconsciente devido ao extremo amor que nutria por seu pai. Nunca a questionei
sobre essa razão, mas minha conclusão se deve ao modo que implicitamente ela deixava
transparecer em frases sutis do seu cotidiano.
Jorge
Luiz, meu irmão mais novo, chegou dez anos depois de mim. É o filho que trouxe
na sua genética traços semelhantes à família de meu pai. Quando abriu os
olhinhos pela primeira vez encantou minha mãe pelas duas contas azuis (como
assim ela dizia) e pelo dourado em sua cabeça. Todo vermelhinho, trouxe a
herança da pele dos nossos antepassados ingleses que, segundo meu pai, eram
colonos imigrantes fugitivos dos conflitos que promoveram a primeira guerra
mundial.
Sua
vinda ao seio de nosso lar fora um motivo de júbilo por demonstrar ser uma
criança saudável, ao contrário do meu segundo irmão, Luiz Eduardo, que sofrera
uma paralisia cerebral no momento do seu nascimento, deixando-lhe sequelas
físicas e mentais, comprometendo, assim, o seu desenvolvimento.
No
entanto, ao contrário do que pareceu inicialmente, nem tudo estava tão bem,
pois foi detectado em Jorge Luiz um defeito ortopédico nos seus dois pés. Felizmente
dessa vez haveria jeito com tratamento pré e pós-operatório. Para tanto foi
preciso a iniciativa de meu pai que, apesar do pouco estudo, sempre teve uma
visão larga da vida. Sem medir esforços, dedicou-se a buscar todas as condições necessárias e, assim,
conseguiu reverter o quadro estético e anatômico do seu rebento.
A
partir dessa luta com resultado satisfatório surge um efeito psicológico muito positivo
que se estendeu aos demais aspectos da nossa família. Os raios de esperança
trazidos nos dourados de sua cabecinha favoreceram um surgimento de novos e
belos dias.
E, então, a vida prosseguiu com marcas
de alegria através de uma criança que, chegando para integrar, serviu de
motivação ao desenvolvimento do querido Dudu. Tal como um renascimento, a vida
voltou à sua normalidade e em sequência de ocasiões festivas que teve o seu
começo na primeira Escola, seguida de brincadeiras com amigos da vizinhança até
o despertar para a inabalável Fé. Sua Primeira Comunhão foi registrada por
minha mãe com uma fotografia que simula uma intimidade com Jesus, o Mestre,
Este mesmo Jesus que lhe encaminhou aos estudos místicos da Rosa Cruz e às reflexões
que culminaram num Déjà Vu .
Essa experiência ocasionada por volta dos seus
dezessete anos de idade lhe despertou para a poesia trazendo à tona o livro “A
Pedra Azul”, e se desdobraria em um CD, que iria ser chamado de "Soar d'A Pedra Azul", numa parceria musical com o amigo e Músico por formação, Natan Carvalho.
Estabeleceu em seu cotidiano a
disciplina como meio de conseguir o que almeja. Uma vida pautada em boas leituras,
amizades sólidas e na busca pela ética foi um legado da nossa mãe Maria (in
memoriam).
Jorge Luiz se intitula na sua
vida adulta como Jorge Pi, e, no seu ofício simples que vem exercendo a quase
três décadas na Caixa Econômica Federal, orgulha-se em desempenhar sua tarefa de
importância social, mesmo que esta aparentemente não tenha lhe rendido
grandes dividendos. Conforme suas palavras, renderam-lhe mais frutos das boas energias oriundas
da gratidão daqueles que precisam do seu trabalho.
Comedido em tudo que se propõe a
fazer, caracteriza-se com modéstia como o fez ao denominar seu blog: www.pinininho.blogspot.com.br e onde podemos ler:
Pequenino como um
grão de areia na praia...
Pequenino por que não
poderia ser outra coisa!
Pequenino em tudo aquilo
que me arvoro a ousar e não obtenho êxito.
Pequenino em comparação à minha própria
dimensão eterna e infinita que me abarca a memória e me destrói a dureza de ser
leve como pluma ao vento...
Pequeninamente pequenino como um pé que nina
um pequenino ninho de um menino-ave que se lança em pequenino voo.
Eis-me!
E não me iludo, no entanto, quanto ao
iluminado senso de me fazer notado como quem se despe e torna a se vestir de
nudez opaca, simulando vestes, revelando-se outro que não seja o mesmo a se
esconder em trevas claras e sentidos turvos.
Jorge Pi,
que se diz um peregrino e buscador da Rosa no centro da Cruz,
graduou-se, pela UFS, no Curso de Filosofia,
Pós-Graduaou-se
em Metodologias de Ensino para a Educação Básica (UFS). Membro da Academia Itabaianense de Letras -
AIL (Cadeira 007), é músico (compositor), poeta (amador) e místico
(entendendo-se misticismo enquanto conhecimento + experiência). E, como se autodefine: um Amante do BEM!
Jorge Pi, em seu Jubileu, todas as suas pegadas confirmam que seus pés,
mais que restaurados, estão firmes. Se para eles a anatomia foi devedora da
normalidade, com a anomalia, a Natureza anunciou que estaria chegando entre nós
um andarilho não de chão, mas de acordes, palavras, sentimentos e valores
humanitários. E, só dessa forma, sua vida tem sentido.
Neste dia, certamente nossa mãe em outro plano que o Criador permitiu,
ainda lhe protege e cuida com o mesmo amor que tantas vezes lhe embalou para
dormir cantando: “zoi zu, zoi zu, zoi zu, zu...” (uma composiçãozinha dela própria,
que, inspirada no encantamento dos seus olhinhos ainda azuis de recém-nascido, fez dela a compositora com o
acalanto mais lindo que já ouvi). Certamente estará ao coro dos Anjos, rendendo-lhe dividendos das graças que solicitava na sua devoção à Nossa Senhora da
Conceição e que, sendo a Mãe do Menino-Deus, não faltará.
Por tudo que você se construiu a partir dos próprios méritos, somos orgulhosos
em tê-lo como membro de nossa família!
Eu (Dindinha), em nome de Papai (Seu Bebé), Dudu (Bibi), Ian e Sofia, desejamos que
sua missão esteja apenas começando e o melhor esteja no porvir!
Parabéns pela sua vida, Jorge Pi!