segunda-feira, 28 de junho de 2021

A um colega (In memoriam)


 A um colega (In memoriam)
Tereza Cristina

Sou de uma geração que primava pelo respeito aos professores e deles assimilava não apenas os conteúdos de suas retóricas, mas, principalmente, os exemplos de suas atitudes.
Em sua maioria, o corpo docente de então era formado por estudantes universitários que cumpriam a docência pela carência de profissionais devidamente qualificados para tal.
Essa condição nos favorecia manter uma ponte com a Universidade a respeito da qual, através deles, adquiríamos informações pertinentes a tudo que se referia ao vestibular.
Minha turma conservou sua formação desde o primário no Colégio Dom Bosco. Na época em Itabaiana só tinha o curso ginasial no CEMB. A aprovação do teste de admissão agregava alunos provenientes de diferentes escolas.
Com a organização de turmas, considerando a faixa etária que era utilizada pela direção da saudosa Maria Pereira, formávamos sempre a turma “A” que se caracterizava pela menor idade na respectiva série.
Passado os quatro anos do ginásio, havia uma separação, conforme a opção dos estudantes, variando entre o Curso Normal - que já profissionalizava - com o Curso de Formação de Professores Primários e o Curso Propedêutico - Científico - que apenas objetivava o Concurso Vestibular para continuar os estudos no Nível Superior.
Hoje recebi com tristeza a notícia do falecimento de um colega de Murilo Braga: José Francisco de Andrade. Era assim que na chamada os professores a ele se referiam.
Estudamos os três anos do Curso Científico na mesma turma. Eu sentava sempre na primeira carteira da fila do meio, logo à frente do birô do Professor. Ele, na segunda fila, logo atrás de mim.
Fomos da primeira turma de Científico diurno do CEMB. O certo é que de quarenta e oito alunos restaram vinte e cinco para a chamada das aulas do primeiro ano Científico do Turno Vespertino.
Começava uma nova etapa das nossas vidas. Os conhecimentos que doravante fossem aprendidos nos gabaritariam para os estudos na Universidade.
Lembro bem de como nos comportávamos em sala de aula. Quanta responsabilidade assumida por todos nós, colegas de turma!Também, quantos nos influenciávamos uns como os outros, dando o máximo de nós e tentando conseguir êxito para melhor encaminharmos nossos passos para a vida.
Com essa condição de visualizar o futuro é que frequentávamos diariamente as aulas.
Não nos furtávamos de assistir a todas, em sua integralidade. Estarmos atentos às explicações, anotando direitinho o esquema feito pelos professores no quadro de giz e todas as conclusões era uma prática que, em si, já nos favorecia uma boa aprendizagem.
Lembro que muitas vezes chegando à sala no primeiro horário em dia de teste, sentava silenciosamente com a intenção de me concentrar e Zé Francisco me indagava:
- Tereza, você estudou para o teste? E minha resposta sempre era positiva. Como poderia fazer um teste sem ter antes estudado?Respondia-o.
E ele continuava:
- Quais são os pontos mais importantes e que você considera que servirão de perguntas pelo professor? Qual dos assuntos você mais entendeu?
E eu, em minha inocência, respondia; fazendo, sem perceber, o jogo dele: explicar de última hora em síntese o que realmente importava.
Era uma forma inteligente de ele estudar sem fazer esforço.
E muitas vezes ele conseguia melhores notas do que eu!
Fazia o teste baseado nas nossas conversas que aconteciam minutos antes do professor entrar com as avaliações na sala.
Essa lembrança me faz guardar o quanto ele era inteligente e amadurecido.
Quanto tinha de foco nas coisas que considerava essenciais.
Sabia regrar o tempo para o estudo e a diversão.
Desde cedo demonstrava um tom de voz de locutor. Notávamos isso quando fazia leitura de um texto a pedido de algum professor.
Infelizmente, não enfrentou os bancos universitários. Daria um grande jurista. Preferiu o caminho da comunicação e o da política partidária. E, nessa caminhada, sem o aspecto da ganância, não acumulou bens, mas experiências pessoais que o tornaram ímpar e que, no dia de hoje, as homenagens falaram por si.

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Tereza por tão bela e verdadeira crônica (se é que assim posso chamar). Agradeça ao Espírito Santo os dons da Sabedoria e do Entendimento que a fez uma poetisa e escritora talentosa.

Samuel Andrade disse...

Colega TEREZA Cristina, nosso ZE DE BRIO, era exatamente assim, autêntico, extrovertido, inteligente e muito alegre.
Perdemos um grande amigo,NOSSO COLEGA no CEMB, conforme demonstrado na foto.
DEUS NO COMANDO