Lembranças
de vovô Boanerges
(in: Vida-Lida) Tereza Cristina
Ainda
guardo sua imagem
Em
minha memória afetiva
Que
meus olhos de criança
Tiveram
a alegria de fotografar.
Já
era então um corpo frágil
Que
uma velha bengala lhe servia.
O
cenário aconchegante
De
sua casa tão simples
Composto
por poucos móveis
Tinha
uma mesa redonda,
Uma
cadeira de balanço,
Uma
mesinha com um rádio
Na
ampla sala de jantar.
Por
uma janela aberta
Dessa
sala de jantar,
De
sua cadeira de balanço
Via
um horizonte bonito!
Eram
flores de zabumba
Brancas,
viçosas plantinhas
Enfeitavam
seu quintal
E
acalmavam seus pulmões.
No
alpendre tinha sombra,
Comum
purrão grande de barro
Reservatório
para uma bica
Que
trazia água da chuva
Que
escorria pelo telhado
Que
decantada e dormida,
Na
caneca ele bebia.
Nunca
me esqueci
Das
tardes naquela rede
Embalada
pelas cantigas
De
ninar da minha vó.
Ele,
no balanço da cadeira,
Gostava
de me olhar
E
viajava pelas letras
De
um livro tão grosso
Que
me fazia pensar...
E
tudo o que se ouvia
Era
um silêncio no ar!
Nem
lembro se ele dormia.
Uma
voz então surgia:
“Ceça,
ô Ceça!”
Não,
não era a do meu avô.
Era
a do seu papagaio,
Seu
louro de estimação.
Era
tão bom estar lá!
Minha
lembrança auditiva
Como
um arranjo musical
Conjuga
canções de Luiz,
Cordas
do relógio de parede
O
som que saia do rádio
Com
sua voz, que não esqueço!
Aquele
homem franzino,
De
olhos quase azuis
Cuidava
da barba e cabelo
Era
um velhinho cativante!
Costumava
ir com ele
Até
a barbearia.
Na
sala bem na frente
Da
casa de Seu Rola,
(um
barbeiro bem velhinho)
Era
muito divertido.
Conversa
fluía a três...
Minhas
perguntas constantes
Faziam
os dois sorrirem
E
por vezes, eu sem respostas ficava.
Não
que fossem difíceis.
É
que meu avô,
Sentado
naquela cadeira,
Fazendo
barba e cabelo
Nem
podia responder.
Depois,
expressando afeto,
Ele
então perguntava:
“Me
diga aí, quem souber,
Quem
é meu cravo branco?”
E
minha vó Ceça respondia:
“Sou
eu”
Mas
eu, competindo seu amor,
Sempre,
sempre, rebatia,
“Não!
Sou eu, sou eu, vovô!”
Parte
deste homem
Com
carinho eu guardei...
Cá
dentro do meu coração.
A
outra parte me veio
Regada
de lágrimas
Pelas
histórias que ouvi
Contadas
por minha mãe,
A
caçula de seus catorze filhos.
Falava
de seu caráter,
Da
sensibilidade artística,
Da
rebeldia contra injustiça,
Da
convicção religiosa,
Da
afeição com os seus,
Da
compaixão pelos pobres,
Da
opinião formada da vida,
Do
perfil de desapego...
Desprovido
de riquezas
Seu
legado me orgulha:
A
fortaleza de alma
A
simplicidade de Ser
Deixados
como herança
Em
sua obra e em sua vida!
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