sábado, 22 de julho de 2017

Um doutor do povo



Um doutor do povo!


          Em minha infância um médico estava no mesmo patamar de importância social de um Juiz e de um padre. Eram outros tempos. Os valores proclamados na vida comunitária se estabeleciam pela ética, pela competência e pelo fator humanitário. Nossa cidade ainda não possuía o viés do progresso que em si carrega o valor do capital. Havia tempo para cadeiras nas calçadas e passeios a pé. As pessoas se conheciam e mantinham um respeito necessário à harmonia da vida em comunidade. 
          No entanto, no desenvolvimento humano havia lacunas que ainda são observadas nos dias de hoje. A falta de água potável, saneamento básico e esgotamento sanitário determinavam os problemas mais frequentes de saúde pública. Dessa forma, a importância do médico se fazia bem mais notada. Principalmente quando esse médico assumia a função humana acima da profissional. Nesse contexto, a atuação de Dr. Pedro Garcia Moreno se caracterizava pela sua capacidade de olhar com mais atenção as classes menos favorecidas. Vocacionado e compromissado com as causas da medicina, independentemente da existência de políticas de saúde publicas, atuava a contento no atendimento às pessoas mais simples e sem recursos. Era comum vê-lo atender pacientes no seu domicílio sem que para isso fosse remunerado. Por vezes, vidas chegaram ao mundo por suas mãos no leito de sua própria residência. A inexistência de uma maternidade não o impedia de contribuir com os seus conhecimentos para minimizar o sofrimento das parturientes que, atendidas por parteiras, não conseguiam dar à luz com facilidade. Em socorro dessas mulheres, não se furtava em se fazer presente para gratuitamente colaborar com seus conhecimentos de médico.
          Em certa ocasião, presenciei minha mãe comparando-o um personagem de uma novela que encenava um médico de uma Aldeia e atendia pacientes vistos com natural rejeição por parte da sociedade. Eram pessoas que viviam em situações sub-humanas, moradores das periferias, das ruas, dos prostíbulos, dos orfanatos e dos asilos. Esse personagem causava admiração, e apesar de ser um papel coadjuvante na história, se impôs como principal perante minha mãe que orgulhosamente dizia: - Esse médico parece com Dr. Pedro.
          Ao ouvir isso, meu pai fazia questão de relembrar do atendimento que ele prestou a mim quando criança, em minha, casa sem cobrar a consulta. 
          Esse era o perfil de Dr. Pedro Garcia Moreno: um médico humanista que, acima da medicina, tinha ciência de sua missão espiritual entre nós e com seu jeito simples de conduzir os conhecimentos adquiridos se misturava aos que considerava iguais, mesmo sendo ele uma referência para muitas gerações de médicos.
          A medicina não fora para ele um ofício, e sim uma missão. Dela se serviu para servir. Nela viveu até seus últimos dias. Mas, antes, teve outra tarefa fundamental: a de sensibilizar sobre a necessidade de se perceber a vida além do corpo. 
          Com essa outra missão, fez Escola de doutrinamento espírita e ainda hoje continua fazendo o bem através de sua energia que está no meio dos que dele precisam.
          Tereza Cristina Pinheiro Souza

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