Um doutor do povo!
Em minha infância um médico estava no
mesmo patamar de importância social de um Juiz e de um padre. Eram outros
tempos. Os valores proclamados na vida comunitária se estabeleciam pela ética,
pela competência e pelo fator humanitário. Nossa cidade ainda não possuía o
viés do progresso que em si carrega o valor do capital. Havia tempo para
cadeiras nas calçadas e passeios a pé. As pessoas se conheciam e mantinham um
respeito necessário à harmonia da vida em comunidade.
No entanto, no desenvolvimento humano havia
lacunas que ainda são observadas nos dias de hoje. A falta de água potável,
saneamento básico e esgotamento sanitário determinavam os problemas mais frequentes
de saúde pública. Dessa forma, a importância do médico se fazia bem mais notada.
Principalmente quando esse médico assumia a função humana acima da
profissional. Nesse contexto, a atuação de Dr. Pedro Garcia Moreno se
caracterizava pela sua capacidade de olhar com mais atenção as classes menos
favorecidas. Vocacionado e compromissado com as causas da medicina,
independentemente da existência de políticas de saúde publicas, atuava a
contento no atendimento às pessoas mais simples e sem recursos. Era comum vê-lo
atender pacientes no seu domicílio sem que para isso fosse remunerado. Por
vezes, vidas chegaram ao mundo por suas mãos no leito de sua própria
residência. A inexistência de uma maternidade não o impedia de contribuir com
os seus conhecimentos para minimizar o sofrimento das parturientes que,
atendidas por parteiras, não conseguiam dar à luz com facilidade. Em socorro
dessas mulheres, não se furtava em se fazer presente para gratuitamente
colaborar com seus conhecimentos de médico.
Em certa ocasião, presenciei minha
mãe comparando-o um personagem de uma novela que encenava um médico de uma
Aldeia e atendia pacientes vistos com natural rejeição por parte da sociedade.
Eram pessoas que viviam em situações sub-humanas, moradores das periferias, das
ruas, dos prostíbulos, dos orfanatos e dos asilos. Esse personagem causava
admiração, e apesar de ser um papel coadjuvante na história, se impôs como principal
perante minha mãe que orgulhosamente dizia: - Esse médico parece com Dr. Pedro.
Ao ouvir isso, meu pai fazia questão
de relembrar do atendimento que ele prestou a mim quando criança, em minha, casa
sem cobrar a consulta.
Esse era o perfil de Dr. Pedro Garcia
Moreno: um médico humanista que, acima da medicina, tinha ciência de sua missão
espiritual entre nós e com seu jeito simples de conduzir os conhecimentos
adquiridos se misturava aos que considerava iguais, mesmo sendo ele uma
referência para muitas gerações de médicos.
A medicina não fora para ele um
ofício, e sim uma missão. Dela se serviu para servir. Nela viveu até seus
últimos dias. Mas, antes, teve outra tarefa fundamental: a de sensibilizar sobre
a necessidade de se perceber a vida além do corpo.
Com essa outra missão, fez Escola de
doutrinamento espírita e ainda hoje continua fazendo o bem através de sua
energia que está no meio dos que dele precisam.
Tereza Cristina Pinheiro Souza
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