terça-feira, 11 de julho de 2017

Palavras: seus muros e suas pontes



Palavras: seus muros e suas pontes
Tereza Cristina

Quando fui convidada a escrever na coluna de educação em um espaço jornalístico, tive inconscientemente uma resistência natural de quem sabe o valor do tema proposto. Aos poucos fui digerindo a ideia e lembrei-me dos limites das palavras. Foi então que ponderei meu espanto.
Quem não teme as palavras proferidas corre o risco de torná-las muros. Neste sentido, recuso juntar as letras.
As letras como aprendi no alfabeto eram meigas. De um jeito lúdico, representavam o início de um animalzinho que nas imagens coloridas ao lado de cada uma, já eram as primeiras palavras. Mesmo quando o animal oferecia perigo ou era feroz, como no caso da letra ”C” de Cobra, do “O” de Onça e do “T” do Tigre. O sentido era pequeno diante da novidade que eram as letrinhas do alfabeto dos animais. Mas aos poucos, a vida vai nos apresentando o significado das coisas e com ele o nosso pensamento vai tecendo uma teia de letras que formam palavras nem sempre bonitas de se dizer. É hora de pensar antes de falar, antes de escrever.
Acontece que diante situações que nos angustia, falamos como se fôssemos desprovidos de cérebros. Falamos mais pelas vísceras que movem nossas emoções e por isso deixamos de filtrar as impurezas das palavras que magoam. Das palavras que separam. Das palavras que não educam.
Nem sempre podemos ser completamente francos nas palavras. Não que isso seja argumento para usarmos as palavras como enfeites, nem mentirmos através delas ou enganarmos. Não devemos usar as palavras para forjarmos verdades. Não devemos usar as palavras para iludir. Não! As palavras são a ponte de entendimento humano que se faz registro quando escrevemos e se demora no tempo alcançando uma geografia tão grande que ultrapassa os limites de muros.
Formar palavras que construam pontes é o grande desafio para quem as escreve. E, nesta perspectiva, tentarei ao máximo escrever com a mesma postura da criança que atentamente conhecia as letrinhas do alfabeto como se folheasse um álbum de figurinhas e delas ia formando muitos pensamentos para poder dialogar e aprender com as pessoas sabidas, mas sem perder de vista as palavras lidas com os olhos do coração.

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