Palavras:
seus muros e suas pontes
Tereza Cristina
Quando
fui convidada a escrever na coluna de educação em um espaço jornalístico, tive
inconscientemente uma resistência natural de quem sabe o valor do tema
proposto. Aos poucos fui digerindo a ideia e lembrei-me dos limites das
palavras. Foi então que ponderei meu espanto.
Quem
não teme as palavras proferidas corre o risco de torná-las muros. Neste
sentido, recuso juntar as letras.
As
letras como aprendi no alfabeto eram meigas. De um jeito lúdico, representavam
o início de um animalzinho que nas imagens coloridas ao lado de cada uma, já
eram as primeiras palavras. Mesmo quando o animal oferecia perigo ou era feroz,
como no caso da letra ”C” de Cobra, do “O” de Onça e do “T” do Tigre. O sentido
era pequeno diante da novidade que eram as letrinhas do alfabeto dos animais.
Mas aos poucos, a vida vai nos apresentando o significado das coisas e com ele
o nosso pensamento vai tecendo uma teia de letras que formam palavras nem
sempre bonitas de se dizer. É hora de pensar antes de falar, antes de escrever.
Acontece
que diante situações que nos angustia, falamos como se fôssemos desprovidos de
cérebros. Falamos mais pelas vísceras que movem nossas emoções e por isso
deixamos de filtrar as impurezas das palavras que magoam. Das palavras que
separam. Das palavras que não educam.
Nem
sempre podemos ser completamente francos nas palavras. Não que isso seja
argumento para usarmos as palavras como enfeites, nem mentirmos através delas
ou enganarmos. Não devemos usar as palavras para forjarmos verdades. Não
devemos usar as palavras para iludir. Não! As palavras são a ponte de
entendimento humano que se faz registro quando escrevemos e se demora no tempo
alcançando uma geografia tão grande que ultrapassa os limites de muros.
Formar
palavras que construam pontes é o grande desafio para quem as escreve. E, nesta
perspectiva, tentarei ao máximo escrever com a mesma postura da criança que
atentamente conhecia as letrinhas do alfabeto como se folheasse um álbum de
figurinhas e delas ia formando muitos pensamentos para poder dialogar e
aprender com as pessoas sabidas, mas sem perder de vista as palavras lidas com
os olhos do coração.
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