Para além do retrovisor
Tereza Cristina
É junho de 2018. Quase duas décadas de um novo milênio. É tempo de festa e de remoer lembranças dos antepassados através da fé. O sagrado e o profano se juntam para celebrar o jeito próspero de viver. Enquanto os fiéis rezam as treze novenas, o movimento dos negócios aumenta no lugar. Vem gente de toda parte. Gente que aqui nasceu, gente que aqui morou e gente que nunca sequer ouviu daqui falar. Gente trazida pelos novos ventos nos ares da serra.
Enquanto aqui a vida ainda preserva valores, alarga os passos querendo alcançar os novos tempos. Há muito os tempos são outros. Primeiro eles chegaram por ouvir falar, pelas histórias contadas pelos que daqui saíram e voltaram do mundo de lá. Depois, pelas fitas de cinema, pela voz do rádio, pela imagem da TV, pelo fio do telefone e, agora, pelo mundo cibernético. Foi-se o tempo do isolamento. Mas mesmo assim persistimos em ser uma Aldeia. Aceitamos o progresso, mas resistimos à educação. Assimilamos bem menos que conseguimos fazer. Somos os que fazem. Lembrando ‘Bom Conselho’ do Chico Buarque, somos do tipo “age duas vezes antes de pensar”. E somos os que sem muita, ou quase nenhuma ciência, ensinam. Os que vivem no modo “devagar é que não se vai longe”. Por isso logo cedemos aos avanços e também resistimos ao refinamento. Nossa gente é tão forte que, apesar de aos poucos nos permitirmos viver no modo globalizado, impregnaremos nossa marca em tudo que aqui chegar.
Se os tempos são outros, na essência, estamos ainda vivendo no mesmo modo da velha Loba, que usa a passionalidade para se orgulhar de si mesma.
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