domingo, 20 de janeiro de 2019

Cá com os meus botões



Cá com os meus botões
Tereza Cristina
Acordei hoje precisando pensar por mim. Aproveitei ser um dia de domingo. O domingo é sempre calmo para quem fica em casa enquanto o sol de verão lá fora brilha e aquece fortemente como convidando as pessoas para um banho de mar ou de piscina.
Desliguei o celular, Fiquei comigo. E toda tarefa que realizei foi de maneira silenciosa. Parecia até aquele dia lá na minha infância, na preparação da minha primeira Comunhão, quando na véspera, após a primeira confissão, onde participei de um retiro promovido pelo Educandário Dom Bosco e organizado por Irmã Auxiliadora Graça Leite. Agora, com uma diferença daquela ocasião que fui forçada a não conversar.  Estava com oito anos de idade. Vale lembrar que a idade mínima para esse Sacramento é sete anos, por se entender que é ‘a idade da consciência’. Há uma explicação melhor de Jean Piaget no seu estudo sobre o desenvolvimento humano.
Comecei o meu silencioso dia me reportando ao retiro para a minha primeira Comunhão. Olha que estava com todas as crianças que do mesmo modo se preparavam para o rito de iniciação da Eucaristia, um ritual religioso do catolicismo que nos apresenta ao Corpo de Deus. Lembro bem das recomendações que minha mãe me fez para que não falasse com ninguém, ninguém mesmo. Insistia dizendo que eu iria ter muita vontade de conversar, mas essa era a forma de eu me preparar espiritualmente para receber a Eucaristia, onde Jesus está Vivo. Era muito confuso entender todas as explicações. Mas na minha época de criança, os questionamentos ainda que não tivéssemos em retiro espiritual, eram sufocados pelos adultos. Agora, depois de um caminho sobre a Pedagogia, imagino que essa era a metodologia mais confortável para os que não tinham respostas e nem se colocavam como aprendizes perante as perguntas de uma criança curiosa. Ter curiosidade era sinônimo de rebeldia. Não se estimulava o diálogo. Eu era muito curiosa. E cá com os meus botões, para não receber repreensão, continuava sempre com uma conversa silenciosa. Era a forma de não me expor e no exercício da minha imaginação, ia respondendo as minhas próprias perguntas, criando outras bem mais difíceis e concluindo por exaustão até que voltava a um movimento de alguma brincadeira qualquer. As minhas bonecas eram as minhas melhores possibilidades para produzir meus textos. Para isso, colocava nome em cada uma delas como se quisesse personificá-las. Entre todas, Marli Sobreviveu. E os meus textos, que apesar de não serem verbalizados, não sumiram no tempo; ficaram no meu inconsciente e nas minhas lembranças pueris. Servem-me até hoje de base para entender quanto o silêncio é fundamental em nossa vida.
 De tudo que posso recordar, o melhor foi compreender que as minhas perguntas que ficaram sem respostas não foram inúteis. Aprendi que nem sempre há uma resposta para todas elas. Mas, que nem por isso elas devam desaparecer. Delas aproveitei para exercitar meu crescimento. Não me refiro ao crescimento físico. Mas aquele crescimento que num ritual semelhante ao de um retiro, se faz silencioso dentro de mim.
E, ao contrário do outro crescimento, essa ebulição dos meus pensares continua até hoje em processo. Cresço a cada vez que me pego com perguntas, feitas por mim mesma, e que não obtenho respostas de fora. Então, agora por vontade livre e iniciativa pessoal me recolho ao silêncio, sem que para isso tenha uma recomendação nesse sentido, nem precise dialogar com bonecas.
Ao longo de minha vida, experenciei momentos assim que me trouxeram e trazem lições necessárias à harmonia interior. É um jeito de meditar. Nele, descobri que nem sempre existem respostas prontas para nossas perguntas. Mas, nem por isso devemos viver sem provocações. Que quando somos instigados a desejarmos entender alguns mistérios deveremos aquietar a mente, apaziguar o coração, respirar fundo e silenciar. Descobri que às vezes precisamos nos fazer ilha. Que alguns dias, carecemos de um isolamento saudável que não ultrapasse a fronteira do riso, da esperança e da alegria para quando do nosso reencontro com o outro.


Um comentário:

Pinininho disse...

Que lindo! No silêncio, a Voz Interior nos sussurra doces lições de Vida.